Voz de homem atende:
- Depilação e manicure, bom dia!
- ...
- Alô?
- Oi, é, er... É, de onde fala?
- Depilação e manicure.
- Tá, é, eu queria marcar unha e (falando
baixinho) depilação.
- Unha que mais senhora?
- Depilação.
- Desculpe, não ouvi.
- DEPILAÇÃO. VIRILHA e sobrancelha.
- Ok, nós temos quarta às 11h, podemos marcar unha
11h30? Depilação só virilha e sobrancelha?
- Isso.
- Virilha e sobrancelha, senhora?
- ISSO!
O diálogo acima realmente aconteceu e eu participei dele.
Você, leitora “pra frentex”, pode não ter visto nada demais mas eu confesso que
tenho um problema com homens no “espaço feminino”. Até pra marcar exames
femininos por telefone prefiro atendentes mulheres. Pra fazer os tais exames
então, nem se fala. Fico imaginando se eu chegasse pra fazer a depilação e desse
de cara com UM esteticista.
Tudo isso me levou a refletir. Logo eu que adoro estudar
sobre feminismo e o comportamento que ele envolve, a princípio pensei que fosse
uma “machista”, por não querer de fato uma igualdade dos sexos. Pensei em mim
como uma pessoa retrógrada e antiquada. Refletindo por dias descobri que, apesar
de ser cheia de conceitos e não achar que me encaixo na lista dos 10 mais
modernos, o problema não estava em mim e sim naquelas velhas regras que envolve
homens e mulheres. Fiquei um tanto pasma, pois achava que a ideia de um mundo
regido por conceitos masculinos (pra não dizer machismo, já que muita gente não
entende o que isso significa) era algo que não me afetava.
A verdade é que tudo isso é um reflexo da nossa bela
cultura. O “cuidado” e a “preservação” do corpo são sim importantes, mas não
quando vem de um reflexo de insegurança ou vergonha de ser quem é. Querer preservar o que pensamos ser
o “espaço feminino” também vem da
falsa impressão que ali NÓS mandamos e portanto não permitimos homens, no
máximo, aceitamos alguns homens gays.
E tudo fica ainda mais louco quando fazemos um paralelo
entre espaços exclusivamente masculinos e femininos. Para eles: puteiro, casa de charutos (sei
lá de onde tirei isso) e há até quem insista em estádios de futebol. Só consigo
pensar em coisas que exaltam o poder e exercitam a masculinidade. Para elas: cabeleireiros, loja de sapatos, academias para mulheres e afins, ou seja, estética.
Gente, pelo amor, eu estou escrevendo em um blog de beleza e
ADORO me cuidar independente de onde venha essa necessidade. Não vou deixar de
ir na depilação (ainda que para muitos isso seja a grande conquista do
machismo) e nem de fazer a unha. Mas adoro questionamentos e esse post, me
desculpem, não vai trazer nenhuma revolta além e muito menos uma resposta,
apenas uma dica: que tal começarmos a questionar de onde vem as nossas
inseguranças e quem sabe perceber que muitas vezes elas não são nossa CULPA?