- “São
dois lugares, por favor”, peço ao garçom.
- Certo.
Dois não né, 3!
Eu sorrio e concordo. Ele
continua:
- Ou
melhor, 4 né? São gêmeos?
PÉEEEEEEEEE. Errou garçom. Errou.
Novamente eu dou um sorriso
enquanto caminhamos para a mesa e digo que estou grávida apenas de 1 bebê. Ele
insiste, vê que falou merda e tenta consertar:
- Mas
bem que podiam ser 2 né? Assim já fechava a fábrica!
A essa altura já estamos na mesa,
eu olho pra ele como quem diz “por favor PARE de falar” e minha amiga observa
minhas reações. Ele não para e continua dizendo como é bom ter 2 bebês de uma
vez mas que também pode ser muito trabalhoso e bla bla bla, até que decide que
o melhor é entregar o cardápio e sair andando.
Tudo isso me levou a refletir
sobre a INTIMIDADE. No caso, o moço estava tentando ser simpático e acabou se
atrapalhando. Nisso ele atravessou a tênue linha da minha intimidade e tentou,
como dizem, “quebrar o gelo”, falando sobre quantos bebês eu deveria ter e em
qual momento. Ele não tinha nada a ver com o tamanho da minha barriga nem com
quantos filhos eu tenho e por que.
Manter a intimidade é coisa rara
atualmente e alguns chegam a dizer que ela é uma merda. Eu prefiro dizer que a
intimidade é incompreendida. Nós mesmos escancaramos tudo nas redes sociais e
depois não gostamos quando alguém dá pitaco na nossa vida. A tecnologia,
aliás, é grande inimiga da intimidade. Quantos términos de relacionamento
não aconteceram por causa das redes ou de um SMS indiscreto no celular?
Eu sou a favor de um resgate da
intimidade. Nada de senhas de e-mail compartilhadas, nem de fuçar no celular do
namorado. Gente, quem quer trair VAI trair e se o traído vai descobrir, são outros quinhentos. E as
pessoas precisam parar de confundir: se eu posto uma foto com meu marido no
Facebook, não significa que estou permitindo que falem para mim sobre meu
casamento.
Outro dia estava conversando com
amigas sobre pessoas que tiram fotos nuas para o namorado e depois do término
ou por conta de um celular ou câmera roubados, acabam parando na internet, ali,
pra todo mundo ver. Pessoalmente não me atrai a história fazer a coelhinha da
Playboy, mas até entendo a pessoa apaixonada que confia no outro a ponto de
entregar totalmente sua intimidade. Aí, e podem me julgar por isso, acho que
devia ser considerado crime hediondo sair expondo a intimidade do outro assim,
por vingança ou raiva.
Lembrando que a intimidade não é
só sexual. Existem momentos únicos que compartilhamos e por favor, peidar na
frente do outro não é intimidade, é falta de educação.
“Não tenho nada pra esconder,
minha vida é um livro aberto!”. Pois eu digo: tenha. Não o que esconder, mas o
que preservar. Não só sobre seu corpo, mas sobre situações, sobre o outro,
sobre você. A intimidade não é uma merda, ela é linda: basta saber como
compartilhar.